O Mundo corporativo precisa (e cobra) eficiência e resultados como ninguém – e satisfazer essas necessidades o tempo todo é um enorme desafio.
O que chamamos de tecnologia “sempre existiu” e em geral “vem” para nos ajudar, mas exige preparação, planejamento, compreensão, ajustes e treinamento.
Se o início dos computadores como processadores de dados e de textos trouxe um certo receio para alguns e alegrou a outros, o fato é que atualmente já nem se imagina o mundo sem eles.
O mesmo já vivemos com uma certa automação na advocacia, nas empresas, nos escritórios e mesmo no Judiciário. Há quem adore, há quem tenha receio, quem já esteja preparado e quem não esteja. Todos teremos que nos adaptar.
A automatização da advocacia
A realidade que já vivemos (e o futuro tende a ampliar) está ajudando (no campo da advocacia) a “separar” o que pode e deve ser feito por humanos e por máquinas/sistemas.
São/somos complementares e o “melhor” é entender o que cada um faz melhor, de maneira mais eficiente e rápida, e com maior segurança.
Se tudo o que for muito repetitivo e sem uma efetiva criação intelectual pode e deve ser automatizado (muita coisa já é assim), o que for mais estratégico e exigir sensibilidade, criatividade, experiência, “horas de voo”, experiência e até maturidade, bem como que exija muita segurança para a efetiva tomada de decisões críticas, tende a ser “guardado” para os humanos.
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O uso das máquinas na advocacia
Se pudermos chamar o estágio atual de desenvolvimento de sistemas, algoritmos, aplicativos e computadores, de “máquinas”, veremos que tudo (ou quase) que já estiver ou que possa ser indexado, compilado, buscado e respondido de forma automatizada e repetitiva, já está com elas (máquinas) – ao passo que essas “máquinas” ainda busquem respostas às perguntas já feitas e precedentes, bem como informação.
O mundo real (e o corporativo também) não se baseia, porém, em respostas, mas em perguntas.
São as “perguntas certas”, a sensibilidade, a criatividade e a experiência (muitas vezes “as horas de vôo”) que em geral ajudam a “ver o que ninguém está vendo”, a encontrar outras alternativas, a perceber as efetivas diferenças etc.
Se para o que é passível de automação em geral é muito mais rápido, preciso e barato para as máquinas, questões realmente inovadoras e complexas são (e devem ser) destinadas aos humanos.
Para que seja um “ganha a ganha”, entretanto, é preciso muita preparação. Até mesmo para que preparemos as máquinas para essa função, com a maior segurança possível, e da mesma forma as pessoas.
Vivemos uma grande revolução na advocacia, que em grande medida está mudando quase tudo o que conhecíamos. Todos temos que nos adaptar.
Os desafios para automatizar
Um dos grandes desafios dos gestores neste momento, é justamente fazer essa seleção entre o que deve ser automatizado e o que deve ser alocado às pessoas, e como treinar e preparar cada um para essa nova etapa.
O tema é tão importante e atual que muitos temos estudado, conversado, pesquisado e escrito nos últimos tempos, e quanto mais se estuda e aprende, mais questões e dúvidas surgem, como, por exemplo, o que esses sistemas precisam ter para que com eles se atinja a excelência? Quem deve operar? Quem pode treinar e preparar os operadores de tudo isso? Serão técnicos em informática, engenheiros, programadores, advogados ou outros profissionais? Ou todos esses juntos?
Os advogados que não tiverem condições de “sobreviver” em empresas e escritórios serão realocados? Serão reinados para outras funções?
E como será efetivamente a interação? Em que casos e situações o que a máquina fizer será confirmado/checado por humanos e vice-versa?
O que ocorrerá com a advocacia nesse sentido nos próximos 10 (dez) anos, por exemplo?
Temos ainda várias questões e nosso “trabalho coletivo” é entender mais e melhor todos os contextos e procurarmos as respostas conjuntamente.
Questionando essa nova realidade
Na mesma linha, se a nova realidade levar a uma efetiva automação, e com isso previsibilidade, de cláusulas e pontos de negociação em contratos, por exemplo, haverá espaço para negociação efetiva? Ou serão apenas robôs replicando precedentes?
E no judiciário, se apenas robôs interagirem, seja por advogados por promotores ou por juízes, e sempre baseados em precedentes, sem crivo humano para apurar eventuais diferenças específicas em cada caso concreto, será mesmo que continuarmos a falar em Justiça?
Se o Direito não é uma ciência exata, e sempre esteve na linha do conhecimento humano, sem humanos o que teremos?
Se as tendências forem identificadas pelos sistemas e robôs, e os precedentes se transformarem em verdades absolutas, ainda teremos direito e justiça? Casos parecidos serão sempre julgados da mesma forma, sem defesa real?
Nossa profissão se tornará automática e matemática?
Como todos os operadores do Direito e o próprio sistema jurídico do Brasil estão sendo organizados, adaptados e preparados para essa nova realidade?
Essa questão é nossa e de todos nós, e temos que nos preparar e até corrigir eventuais equívocos.
Conclusão
Temos visto muitos especialistas, centenas de sistemas e máquinas, sempre prometendo rapidez, precisão e economia (que todos sempre queremos), mas quem está cuidado do contraponto e do que os humanos farão nesse novo contexto e para lidar com ele?
Quais seriam as exceções ao que será automatizado, com que critérios e delegado a quem?
Novos tempos estão chegando, para um novo direito e novos advogados.
O futuro é agora.
Biografia do Autor
Leonardo Barém Leite é advogado em São Paulo, especializado em negócios e em advocacia corporativa, sócio sênior da área empresarial de Almeida Advogados, com foco em contratos e projetos, societário, governança corporativa, “Compliance”, fusões e aquisições (M&A), “joint ventures”, mercado de capitais, propriedade intelectual, estratégia de negócios, infraestrutura e atividades reguladas.
Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (“São Francisco”) com especialização em direito empresarial, pós graduado em administração e em economia de empresas pela EAESP-FGV/SP, bem como em Gestão de Serviços Jurídicos pela mesma instituição. Pós-graduado em “Law & Economics” pela Escola de Direito da FGV/SP, especializado em Direito Empresarial pela Escola Paulista da Magistratura (EPM) e em Conselho de Administração pelo IBGC/SP. Mestre em “Direito Norte Americano e em Jurisprudência Comparada” pela “New York University School of Law” (NYU/EUA).
É membro de diversos conselhos de instituições brasileiras e internacionais, autor de diversas obras sobre gestão jurídica estratégica e direito empresarial, professor em cursos de pós-graduação. Integra várias comissões e comitês de advocacia corporativa em São Paulo e em outros estados.
É professor em cursos de especialização em Gestão Estratégica de Departamentos Jurídicos de Empresas na FIA e na FAAP, em São Paulo, e autor de livros sobre o assunto. Foi sócio do escritório Demarest e Almeida – Advogados onde atuou por mais de 20 anos, e também advogado estrangeiro no escritório Sullivan & Cromwell em NY e na Europa nos anos 1990.