Uma lawtech ou legaltech tem como objetivo atuar no mercado jurídico por meio da criação de produtos e serviços de base tecnológica. As startups jurídicas estão ganhando cada vez mais tração mundo afora. Hoje, estima-se que existam 1.500 startups no mundo que se dedicam a resolver problemas do universo do direito, e os investimentos recebidos por essas empresas somente em 2018 somaram 700 milhões de dólares nos Estados Unidos, segundo dados do CrunchBase.
O ano de 2020 foi especialmente importante para o desenvolvimento das tecnologias relacionadas ao setor jurídico. A pandemia do coronavírus foi um poderoso indutor de soluções para a resolução de problemas à distância. Mesmo depois da pandemia, a tendência é que as melhores soluções mantenham-se relevantes, construindo, nas palavras do relatório 2020 Legal Trends Report, da Clio, não um ‘novo normal’, mas um ‘normal melhor’.
Lawtech e legaltech no Brasil
O Brasil vem se revelando um terreno fértil em oportunidades para uma lawtech ou legaltech, termos usados para se referir a uma startup jurídica. O setor jurídico no país é sinônimo de dados impressionantes: temos cerca de um milhão de advogados registrados nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), 1,2 mil faculdades de Direito, 77 milhões de ações pendentes e um tempo médio de julgamento em 1ª instância de quatro anos e quatro meses. E é nesse cenário complexo e gigantesco que essas startups apareceram com força em território nacional.
Por aqui, a previsão é de crescimento acelerado. Em 2017, a Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L) nasceu para agregar as startups jurídicas tupiniquins e ajudá-las a expandir suas capacidades. Em 2018, um importante passo nessa direção veio com a primeira edição do programa de aceleração “Accelerator Day for Lawtechs”, iniciativa da entidade em parceria com a Thomson Reuters.
Atualmente, há ao menos 150 legaltechs em atividade no país, de acordo com a Ab2L. Uma quantidade que certamente aumentará à medida que novos jovens bacharéis em Direito, e ligados em tecnologias disruptivas, se lançarem no mercado.
E a Justiça está de olhos abertos para essa revolução: em 2019, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) concedeu, pela primeira vez, o prêmio Conciliar É Legal para uma lawtech, reconhecendo o projeto conduzido pela Mediação Online e o banco Itaú que promoveu, com mais eficiência, dezenas de acordos entre a instituição financeira e empresas devedoras.
Os dados não deixam dúvidas das oportunidades que estão no horizonte dessas startups. Com isso em mente, selecionamos algumas das principais tendências para o setor. Veja abaixo:
1 – O cliente no centro da experiência
Os recentes avanços tecnológicos em diferentes áreas vêm tornando a interação e a experiência dos consumidores na compra de bens e serviços cada vez mais simples e agradável. Em contrapartida, também estão os tornando ainda mais exigentes quanto ao que contratam. Na advocacia, não é diferente. Segundo o relatório LegalTech Trends 2019, as expectativas sobre os serviços jurídicos estão mudando, especialmente no que diz respeito aos meios de pagamento e a possibilidade de se resolver dúvidas por meio de portais eletrônicos.
De acordo com o levantamento conduzido pelo estudo nos Estados Unidos, 50% dos entrevistados são mais propensos a contratar um advogado que aceite pagamento eletrônico e 40% disseram que jamais contratariam um profissional que não aceitasse cartões de débito ou crédito. Além disso, 52% afirmaram que gostariam de poder verificar online as horas usadas em seu caso.
2 – Advocacia à distância
O relatório também mostrou que os clientes estão cada vez mais abertos a solucionar suas questões à distância, sem necessariamente comparecer pessoalmente ao escritório. Nesse ponto, o surgimento de tecnologias que permitem aos advogados administrar seus casos remotamente, como aplicativos para celulares e computação em nuvem, trará à tona novas dinâmicas de trabalho.
Do lado dos clientes, essas novidades já parecem bem-vindas. Segundo o LegalTech Trends 2019, clientes que tiveram experiências jurídicas nos últimos dois anos, por exemplo, são abertos à interação remota com advogados e até ao uso de robôs na solução dos seus problemas. Entre essas pessoas, 31% disseram não fazer questão de conhecer seu advogado pessoalmente e 24% delas concordam que robôs são úteis no aconselhamento jurídico.
Esses percentuais sobem ainda mais quando se olha para o grupo de pessoas que declarou não desejar contratar um advogado para resolver seus problemas: 47% não desejam encontros pessoais e 36% não se incomoda em interagir com robôs.
3 – Inteligência artificial
Essa mudança de paradigma em torno das expectativas dos clientes sobre os serviços jurídicos também revela um papel fundamental para a inteligência artificial na advocacia. Com robôs mais capazes de compreender comandos e prever cenários, a tendência é a de que essa tecnologia se torne cada vez mais central no desenvolvimento de soluções. Ou seja, um campo fértil de oportunidades para uma lawtech ou legaltech.
4 – Cabeça na nuvem e smartphone no bolso
Chega de guardar papelada em cima da sua mesa e ter de lembrar de carregá-las para toda e qualquer reunião. O momento é o de armazenar seus documentos na nuvem para então acessá-los onde quer que você esteja. Segundo prevê o blog Planet Compliance, 2019 será o ano em que os custos desse tipo de serviço irão baixar e isso fará com que essa tendência se consolide especialmente entre os advogados.
5 – Cibersegurança
O acesso à computação em nuvem fará nascer uma necessidade: a adoção de plataformas de cibersegurança atualizadas e preparadas para o combate ao roubo de dados, um pesadelo que atingiu em cheio o meio jurídico nos últimos anos. A tendência é a de que os investimentos nessa área sejam cada vez mais urgentes: segundo números publicados pela revista Forbes, 80% das maiores bancas dos Estados Unidos foram alvo de tentativas de ataques virtuais e 60% dos e-mails recebidos por esses escritórios foram categorizados como “phishing”, a prática de “pescar” informações e dados pessoais por meio de mensagens falsas.
6 – Acessibilidade
O relatório 2020 Legal Trends Report afirma que 77% dos americanos não têm como pagar por serviços jurídicos. Essa realidade pode ser ainda pior no Brasil, país com renda per capita menor que a dos EUA. Por isso, quem opera serviços legais deve buscar maneiras de aumentar a acessibilidade desses serviços para pessoas que não conseguem pagar os honorários totais.
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