Mediação de conflitos na educação: saiba porque essa alternativa é tão positiva!

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A mediação no setor da educação é essencial para o fortalecimento de nossa democracia, exercício de cidadania, otimização do judiciário e para a economia. Tem papel importante para o desenvolvimento de uma nova cultura de diálogo e construção de uma sociedade mais pacífica, além desenvolver nas crianças as competências emocionais, sociais e de comunicação.

Já dizia o Prof. Diogo Moreira Figueiredo[1]: “a consensualidade tornou-se decisiva para as democracias contemporâneas, pois contribuem para aprimorar a governabilidade (eficiência); propiciam mais freios contra o abuso (legalidade); garantem a atenção a todos os interesses (justiça); proporcionam decisão mais sábia e prudente (legitimidade); desenvolvem a responsabilidade das pessoas (civismo); e tornam os comandos estatais mais aceitáveis e facilmente obedecidos (ordem).”

Estes ensinamentos são importantes desde o início da formação das crianças nas escolas, para uma educação moral e cívica de maior responsabilidade na gestão e resolução dos conflitos, propagando a cultura da paz e uma visão de que os conflitos são inerentes a vida e podem ser positivos e até auxiliar no crescimento e formação da auto-estima. Devemos ensinar nossas crianças a encarar e tentar solucionar seus próprios conflitos, antes de terceirizá-los.

Imagem: Reprodução

  1. O que é mediação?

A mediação é uma oportunidade para as partes resolverem seus próprios conflitos, sem delegá-los a uma terceira pessoa para impor uma decisão. É um meio consensual flexível que envolve a cooperação dos participantes, auxiliado por um mediador, independente e imparcial. Este mediador pode ser um professor mediador, um mediador mirim treinado para a mediação entre pares (peer mediation), ou mediador externo.

O mediador aturará como um facilitador para uma interação diferente entre as pessoas em conflito, melhorando a comunicação, acarretando em um diálogo colaborativo, positivo, com foco nos reais interesses e necessidades das partes, na busca de reflexões e soluções conjuntas, sendo as próprias partes as protagonistas da solução.

O mediador é imparcial, não dá conselhos, nem impõe decisões. Em vez disso, ele facilita um diálogo e cria uma atmosfera para que as partes enxergam seus reais interesses e a possibilidade de conciliá-los construindo um consenso.

Assim, por exemplo, quando uma criança sofre bullying na escola, antes de encaminhar os envolvidos diretamente para a diretoria da escola (terceirização da solução) as partes envolvidas podem  ser convidadas a uma mediação para expor o problema através de um diálogo diferente, auxiliado por um mediador, que as auxiliará para que elas solucionem a questão por elas mesmas, possibilitando que cheguem a fundo do problema, se assim quiserem, focando nas necessidades e interesses das partes, com soluções mais criativas e efetivas.

Por ser um procedimento flexível, pode ser adaptado às necessidades da escola ou creche, levando em conta a natureza dos conflitos e o objetivo do programa.

 

  1. Como a mediação se aplica na área escolar?

Existem diversos estudos e programas de mediação escolar desenvolvidos pelo mundo, como por exemplo:

  • Modelo de mediação entre pares ou mediação mirim (peer mediation): nesse caso os próprios alunos são capacitados e treinados para atuar como mediadores, desenvolvendo habilidades de comunicação e resolução de conflitos para mediar e ajudar outros alunos. É o modelo com resultados mais efetivos a longo prazo, pois capacita crianças que levam os ensinamentos para suas comunidades e já aprendem uma habilidade técnica profissional.
  • Modelo de mediação em rede: o objetivo desse modelo cria uma rede de mediadores na escola para mediar todos os conflitos relacionados com o ambiente escolar, inclusive com a ajuda de profissionais e mediadores externos que formam uma rede de apoio à escola;
  • Modelo professores-alunos: nesse modelo os próprios professores são capacitados para atuar como mediadores nas questões e conflitos da própria escola. Os alunos também podem ser capacitados, mas nesse caso somente membros da própria comunidade escolar irão atuar na mediação dos conflitos.
  • Círculos Restaurativos/Justiça Restaurativa: os círculos restaurativos ou de paz são encontros nos quais toda a comunidade, os alunos, pais e professores, tratam dos principais problemas ou conflitos existentes na escola e através do diálogo buscam soluções com a participação de todos, inclusive com a possibilidade de escuta das vítimas e agressores nos casos de bullying e violência.

A mediação no setor da educação pode ser aplicada para conflitos entre alunos (casos de bullying ou questões disciplinares, por exemplo), entre alunos e professores, entre escola e pais (cobrança de despesas escolares, por exemplo) entre professores (mediação organizacional), entre professores e escolas (mediação no direito do trabalho).

Todos temos a responsabilidade social de fazer a mediação ser introduzida nas escolas se quisermos ter uma sociedade melhor, com maior consciência e preparo para resolver seus conflitos antes de terceirizar todos, otimizando nosso judiciário no futuro. Afinal, que consumidores as empresas querem para o futuro?  Que cidadãos queremos formar? Aqueles que terceirizam todos os problemas para terceiros, que os impõe decisões? Ou cidadãos conscientes, engajados em resolverem seus conflitos, com diálogo, empatia, se colocando no lugar do outro antes de agir?

Assim, a mediação deve ser introduzida desde cedo, dando o primeiro passo para uma nova cultura, pois se os alunos observarem a mediação aplicada na escola em todos os setores, logo no desenvolvimento de sua formação, isso auxiliará no desenvolvimento de suas competências sócio emocionais e influenciará em como vão encarar conflitos no futuro.

 

  1. Quais as vantagens da mediação para o ambiente escolar?

Alunos que participam da mediação escolar melhoram sua consciência individual e social, desenvolvem uma comunicação diferente, possuem capacidade de analisar e resolver por eles próprios conflitos e compreender melhor as adversidades e desafios da vida e melhoram a escuta e a empatia –  importantes habilidades humanas.

Os professores, por sua vez, conseguem se concentrar melhor em suas atividades diárias de ensino, melhoram a sua capacidade de compreender os conflitos, de comunicação e de resolver os problemas relacionados com o trabalho no ambiente escolar.

Para os pais também é importante, pois acabam por participar mais ativamente das questões relacionadas com os seus filhos, em especial situações de conflitos, acabam por absorver esta cultura de diálogo e de responsabilidade social de utilizar antes a mediação, servindo de exemplo para o seu dia a dia. E a escola também se beneficia com a melhora do ambiente escolar! Veja alguns pontos levantados por Silvia Iungman, em programas de mediação escolar:

  • Constrói sentido mais forte de cooperação e comunidade com a escola;
  • Melhora o ambiente na aula por meio da diminuição da tensão e da hostilidade.
  • Desenvolve o pensamento crítico e habilidades para a solução de problemas;
  • Melhora as relações entre os estudantes e os professores;
  • Aumenta a participação dos alunos e desenvolve habilidades de liderança;
  • Resolve as disputas entre as pessoas que interferem no processo de educação;
  • Melhora a autoestima dos membros da comunidade escolar;
  • Facilita a comunicação e as habilidades de análise de comportamentos para a vida cotidiana.

A mediação tem, portanto, um caráter pedagógico, contribui com a difusão da cultura de paz, da não-violência e da resolução pacífica dos conflitos.

 

  1. Como implementar a mediação na escola?

O desenvolvimento dos programas de mediação na escola deve ser feito em etapas e por profissionais capacitados, respeitando o acolhimento da escola, colaboração dos pais, alunos e professores.

Alguns autores afirmam que as etapas de execução podem ser as seguintes, (dependendo do programa implantado):

  • 1ª) Sensibilização: etapa de sensibilização e difusão da cultura com professores, pais, funcionários, alunos e todos os integrantes da comunidade educativa;
  • 2ª) Introdução: reuniões com os alunos e/ou professores para início da implantação do programa;
  • 3ª) Capacitação: treinamento para os professores e/ou alunos;
  • 4º) Efetivação: instalação de um centro de mediação escolar;
  • 5ª) Monitoria constante: monitoramento, supervisão e avaliação da experiência.

É muito importante realizar um planejamento, delinear os objetivos do programa e os recursos disponíveis para obter êxito na implementação da mediação escolar.

Esses são alguns aspectos da mediação escolar. No Brasil existem inúmeras iniciativas pontuais para introdução da mediação escolar, dentre elas se destaca um programa desenvolvido de mediação entre pares no Rio de Janeiro sob coordenação de Gabriela Asmar, o projeto adoção afetiva das escolas públicas em iniciativa com as entidades privadas no Estado de São Paulo e o projeto do professor mediador da Secretaria da Educação do Governo do Estado de São Paulo.

Contudo, há muito que se fazer para que a mediação seja efetivamente implantada nas escolas brasileiras. Muito importante que exista legislação e políticas públicas que auxiliem esta introdução de cultura de resolução de conflitos nas escolas, para que a implementação de programas de mediação seja mais efetiva, duradoura, e que traga reflexos para toda a nossa sociedade a longo prazo.

Gostou do artigo? Conte para a gente nos comentários! E se você quiser saber mais sobre a mediação escolar, a MOL indica alguns vídeos sobre o tema:

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Referências:

CRISPINO, Avaro, Bernardes, Celia, Aldenucci, Lidercy, Meurer, Olivia.  Mediação Escolar: Uma Convivência Pacífica. Mediação de Conflitos, Editora Juspodivm, 2016, pág. 543.

DE MATEO, Santiago. La aportácion de la mediación entre iguales al curriculum social de los adolescentes: programa e-amediar.

FERNANDEZ, Isabel. VILLAOSLADA, Emiliana, FUNES, Silvina. Conflicto en el centro escolar. El alumno ayudante. Madrid, 2002: Ed. Catarata.

FREITAS GOUVEIA, Flávio. A mediação de conflitos nas escolas.

IUNGMAN, Silvia. La mediación escolar. Buenos Aires, 1996: Ed. Lugar Editorial.

MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. 3ª. Edição, Rio de Janeiro, renovar, 2007, pág. 41.

NASCIMENTO, Dulce. Clube Mediação: Transformar sonhos em realidade. Chiado editora, 2013.

[1] Moreira Neto, Diogo de Figueiredo, Mutações do direito Administrativo, 3ª. Edição, Rio de Janeiro, renovar, 2007, pág. 41.

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