Já não é novidade que a advocacia corporativa é muito específica, complexa, especializada – e exige vários ajustes em relação à advocacia tradicional; mas o passar dos tempos exige ainda mais competências, conceitos e adaptações.
O que podia ser considerado moderno ontem, já não é hoje, e certamente será velho amanhã.
As empresas se reinventam (ou morrem) todos os dias, a todo momento – e em boa medida porque o Mundo muda, a vida muda. E quem não se adapta “perde o bonde”.
Várias profissões morreram e muitas surgiram nos últimos 20 anos. E quais serão as mais demandadas daqui a 10 anos? Ninguém sabe!
Em função dessa realidade, todos temos que: estar extremamente atentos, ser “antenados”, corajosos, criativos e inovadores permanentemente – e ao menos precisamos acompanhar o “ritmo da vida”. Muito do que se sabia “ontem” e era “verdade ontem”, já não é.
As profissões estão sempre evoluindo
Vários profissionais ainda se deixam enganar (ou não perceberam que já não é mais “assim”) e acreditam que a sua profissão seja a mesma que deu nome à sua formação básica. Não mais.
Alguns ainda “pensam” que ser eficiente e gerar valor é o mesmo que se acreditava que fosse há alguns anos. Não mais.
Em especial nas empresas, mais e mais o que fazemos, e até o nosso “cargo” já não se baseia nem limita à formação acadêmica básica. Em muitos casos nem mesmo a “palavra chave” é a mesma.
Passada a fase mais “júnior” da carreira, é raríssimo que os advogados continuem a ser considerados (e chamados de) advogados nas empresas – passando a ser supervisor, coordenador, superintendente, gerente, diretor etc. “jurídico”. Ou seja, o que se espera do profissional que se torna mais sênior, e que consegue “subir”, já não é mais que seja “apenas um excelente advogado”.
Ser um excelente advogado é pressuposto! O “diferencial” é conquistado pelo que se consegue ser (e entregar) além do básico.
E quando a pessoa conquista a posição de liderança/head passa a ser o Gestor Jurídico. Ou seja, o profissional continua sendo advogado, mas sua função muda. E nem todos percebem o impacto dessa “mudança”.
O que se espera do gerente (que gere) ou do diretor (que dirige) não é o que se espera do profissional que é “apenas advogado”. É um conceito bem mais complexo.
E que vem se sofisticando e evoluindo com o passar dos anos.
A atuação do advogado nas empresas
Um dos principais pontos que o advogado corporativo aprende (ou é excluído do “jogo”) é que na empresa ele não é propriamente um advogado (no sentido mais tradicional e antigo), mas um advogado corporativo. Ele (ela) é um executivo jurídico!
Atuar numa empresa, em pleno mundo corporativo, em conceitos cada vez mais modernos e complexos de “business partners”, assim como de unidade de negócios e centro de resultados, exige muitas (muitas!) adaptações. E que se alteram com o passar do tempo.
Os ajustes de mentalidade e de atuação que começamos a estudar e a divulgar nos anos 1990, e que implementamos na “virada do milênio”, permanecem, mas já não são suficientes.
O mundo corporativo mudou e muda a cada segundo, com a morte de conceitos, modelos e empresas – e o surgimento de outros, de novos.
Há muito tempo se observou que as maiores empresas do mundo (em valor de mercado) costumam ser jovens. E que as empresas que se deixam envelhecer, morrem mesmo. A reinvenção é fundamental e constante.
E o que acontece com as empresas e os modelos de negócios afeta totalmente os executivos.
Esse gestor jurídico contemporâneo precisa, portanto, entender que o que parecia ser inovador e moderno há (digamos) dois anos, já não é mais… Surgiram outros desafios, outras necessidades, outras competências. E o diferencial não é puramente jurídico.
Questões como liderança, atuação em equipe, visão empresarial e de negócios, parcerias, negociação, visão e gestão de risco empresarial, comunicação, gestão, inovação, criatividade, resiliência e tantas outras – que não são propriamente jurídicas e ainda não se ensina nas faculdades de direito – são as quem mais “contam”.
O advogado corporativo é muito mais (e de forma crescente) um executivo que, dentro da lei e da ética, e com todo o seu conhecimento e experiência jurídicos, ajuda as empresas a viabilizar negócios e projetos, com o menor risco possível e o melhor retorno. E quem não perceber terá que mudar de atuação.
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A eficiência do gestor jurídico
Surgiu, assim, há algumas décadas o conceito da eficiência jurídica no contexto corporativo – que já não é mais meramente jurídico.
Um bom exemplo dessa realidade é o chamado estoque de “contencioso” (também conhecido mais popularmente como volume de processos), e que do ponto de vista puramente jurídico poderia levar alguns a pensar que o objetivo da empresa seja vencer processos. Não é!!!
Logicamente, ninguém (e muito menos os advogados) quer perder processos, mas a questão é bem mais complexa nas empresas. Vários fatores adicionais são considerados e não apenas o que o direito contempla.
Esforços como mutirões para redução dos processos são válidos, mas de nada adianta na realidade se após os acordos surgirem mais e mais casos novos.
Formas de se evitar processos, melhorando a própria operação da empresa, treinando colaboradores, evoluindo na gestão, ajustando produtos e serviços, agilizando acordos – e buscando formas mais rápidas e baratas de solucionar controvérsias são “o caminho”.
A eficiência jurídica nas empresas requer sim resultados positivos do ponto de vista jurídico, mas é preciso considerar também os custos, o tempo, a alocação de pessoas, a energia empregada, eventuais conflitos com parceiros, a imagem da empresa e vários outros fatores. Ou seja, a análise e o conceito de vencer/perder não são mais apenas jurídicos e passam a ser empresariais.
O gestor jurídico eficiente, assim como o departamento jurídico eficiente, não é mais o que vence muitos processos, mas aquele que ajuda a empresa a identificar quais processos valem a pena e fazem sentido (sob vários aspectos). E, em geral, o que mais se quer não é propriamente vencer processos, mas que os processos não existam!
Conclusão
Ou seja, o gestor jurídico tem atualmente muito mais valor se ajudar a empresa a não ter processos (ou a ter poucos) do que se “apenas” ajudar a vencê-los.
A tecnologia pode ajudar muito, assim como as mais modernas técnicas e formas de solucionar controvérsias, no caso dos processos. Mas ser inovador e criativo no dia a dia, nos contratos, nos procedimentos, nos desafios empresariais, na viabilização de projetos, nas reuniões, nas consultas etc. é o que mais e mais conta e é considerado eficiente.
Procure conhecer mais sobre eficiência jurídica do ponto de vista corporativo. E busque maneiras de ajustar a sua empresa, a sua equipe aos “novos tempos”.
Vamos conversar mais sobre tudo isso?
Biografia do Autor
Leonardo Barém Leite é advogado em São Paulo, especializado em negócios e em advocacia corporativa, sócio sênior da área empresarial de Almeida Advogados, com foco em contratos e projetos, societário, governança corporativa, “Compliance”, fusões e aquisições (M&A), “joint ventures”, mercado de capitais, propriedade intelectual, estratégia de negócios, infraestrutura e atividades reguladas.
Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (“São Francisco”) com especialização em direito empresarial, pós graduado em administração e em economia de empresas pela EAESP-FGV/SP, bem como em Gestão de Serviços Jurídicos pela mesma instituição. Pós-graduado em “Law & Economics” pela Escola de Direito da FGV/SP, especializado em Direito Empresarial pela Escola Paulista da Magistratura (EPM) e em Conselho de Administração pelo IBGC/SP. Mestre em “Direito Norte Americano e em Jurisprudência Comparada” pela “New York University School of Law” (NYU/EUA).
É membro de diversos conselhos de instituições brasileiras e internacionais, autor de diversas obras sobre gestão jurídica estratégica e direito empresarial, professor em cursos de pós-graduação. Integra várias comissões e comitês de advocacia corporativa em São Paulo e em outros estados.
É professor em cursos de especialização em Gestão Estratégica de Departamentos Jurídicos de Empresas na FIA e na FAAP, em São Paulo, e autor de livros sobre o assunto. Foi sócio do escritório Demarest e Almeida – Advogados onde atuou por mais de 20 anos, e também advogado estrangeiro no escritório Sullivan & Cromwell em NY e na Europa nos anos 1990.